José Herculano Pires manteve, durante muitos anos, no jornal “Diário de São Paulo”, órgão dos Diários e Emissoras Associados, uma coluna de crônicas espíritas, na qual abordava temas de interesse geral relacionados com a doutrina codificada por Allan Kardec. Assinava-as com o pseudônimo de Irmão Saulo.
Destacamos algumas crônicas interessantes do autor, publicadas entre os anos 1969/1970.
Jornalista, filósofo, escritor e professor, Herculano Pires alcançou grande conceito dentro e fora do movimento espírita. Sua produção literária ultrapassa aos oitenta títulos; alguns deles constituem-se verdadeiras obras filosóficas
Herculano dedicou a maior parte de sua existência em favor da Doutrina Espírita, seja buscando interpretá-la com fidelidade, seja defendendo-a dos ataques dos adversários.
Para construir um mundo novo precisamos de um homem novo.
O mundo está cheio de erros e injustiças porque é a soma dos erros e injustiças dos homens. Todos sabemos que temos de morrer, mas só nos preocupamos com o viver passageiro da Terra.
Por isso, a humanidade desencarnada, que nos rodeia é ainda mais sofredora e miserável, que a encarnada a que pertencemos.
- “As filas de doentes que eu atendia na vida terrena – diz a mensagem de um espírito – continuam neste lado.”
Muita gente estranha que nas sessões espíritas se manifestem tantos espíritos sofredores. Seria de estranhar se apenas se manifestassem espíritos felizes.
Basta olharmos ao nosso redor – e também para dentro de nós mesmos – para vermos de que barro é feita a criatura humana em nosso planeta.
Fala-se muito em fraude e mistificação no Espiritismo, como se ambas não estivessem em toda parte, onde quer que exista uma criatura humana.
- Espíritos e médiuns que fraudam são nossos companheiros:
Do plano evolutivo,
Nossos colegas de fraudes cotidianas.O Espiritismo está na Terra em cumprimento à promessa evangélica do Consolador, para consolar os aflitos e oferecer a verdade aos que anseiam por ela.
Sua missão é transformar o homem para que o mundo se transforme.
- Há muita gente querendo fazer o contrário:
Mudar o mundo,
Para mudar o homem.
- O Espiritismo ensina que a transformação:
É conjunta
E recíproca…… Mas tem de começar pelo homem.
Enquanto o homem não melhora, o mundo não se transforma. Inútil, pois, apelar para modificações superficiais. Temos de insistir na mudança essencial de nós mesmos.
O homem novo que nos dará um mundo novo é tão velho quanto os ensinos espirituais do mais remoto passado, renovados pelo Evangelho e revividos pelo Espiritismo.
- Sem amor não há justiça e sem verdade não escaparemos:
À fraude,
À traição,
À mentira,
À mistificação.O trabalho espírita é a continuação natural e histórica do trabalho cristão que modificou o mundo antigo. Nossa luta é o bom combate do apóstolo Paulo: despertar as consciências e libertar o homem do egoísmo, da vaidade e da ganância.
Dizia o vagabundo de Knut Hamsun:
“Os anos não nos dão experiência nem sabedoria, mas nos deixam os cabelos horrorosamente grisalhos.”É o que vemos no final desse poema bucólico da Noruega que é: “Um Vagabundo Toca em Surdina”.
Knut Hamsun era um individualista e sobretudo um lírico do individualismo. Mas o homem que se abre para o altruísmo sabe que as verdades do indivíduo são geralmente moedas falsas, de circulação restrita.
A verdade maior, ou verdadeira, é a que nasce do contexto social, da usina das relações, onde o indivíduo se forma pelo contato com os outros.
Os anos não trazem apenas os cabelos brancos, trazem também a experiência, mestra da vida, e com ela a sabedoria.
E no dia a dia da existência que o homem vai modelando aos poucos a sua própria argila, o barro plástico de que Deus formou o seu corpo na Terra. Cada idade, afirmou Léon Denis, tem o seu próprio encanto, a sua própria beleza.
É belo ser jovem e temerário, mas talvez seja mais belo, ser velho e prudente, iluminado por uma visão da vida que não se fecha no círculo estreito das paixões ilusórias.
O homem amadurece com o passar dos anos. A vida tem as suas estações, já diziam os romanos.
- À semelhança do ano, ela se divide nas quatro estações da existência que são:
A primavera da infância,
O verão da mocidade,
O outono da madureza,
E o inverno da velhice.Mas também à semelhança dos anos, as vidas se encadeiam no processo da existência, de maneira que as estações se renovam em cada encarnação.
Viver, para o individualista, é atravessar os anos de uma existência.
- Mas viver, para o altruísta, é atravessar:
As existências,
As vidas sucessivas,
Em direção à sabedoria.O branquear dos cabelos não é mais do que o início das nevadas do inverno. Mas após cada inverno voltará de novo a primavera.
A importância dos anos é, portanto, a mesma das léguas numa caminhada em direção ao futuro.
Cada novo ano que surge é para nós, os caminheiros da evolução, uma nova oportunidade de progresso que se abre no horizonte. Entremos no ano novo com a decisão de aproveitá-lo em todos os seus recursos.
- Não desprezemos a riqueza dos seus minutos:
Das suas horas,
Dos seus dias,
Dos seus meses.Cada um desses fragmentos do ano constitui uma parte da herança de Deus que nos caberá no futuro.
Fonte: http://www.forumespirita.net/fe/artigos-espiritas/o-homem-novo/msg355571/#msg355571