Ser voluntário é doar seu tempo para servir e utilizar seu talento para causas de interesse social e comunitário e, com isso, melhorar a qualidade de vida de pessoas ao seu alcance.
O serviço voluntário é definido pela Lei federal n. 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, como atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade (art. 1°).
A citada Lei, prevê também, os seguintes requisitos, além de outros, para o exercício do serviço voluntário:
– não pode ser imposto ou exigido como contrapartida de algum benefício concedido pela entidade ao voluntário ou à sua família;
– ser gratuito, em conformidade com as diretrizes normativas da entidade, sendo o caso;
– ser prestado pelo voluntário, isoladamente, e não como “subcontratado” de uma organização da qual o indivíduo faça parte e, portanto, seja pela mesma compelido a prestá-lo; e
– ser prestado para órgãos ou entidades governamentais e instituições não governamentais, sendo que estas últimas devem ter fim não lucrativo e ser voltadas para objetivos de interesse público.
Em geral, as Casas Espíritas desenvolvem atividades a ser realizadas de forma voluntária, como oportunidade para seus frequentadores, cursistas, avizinhados e simpatizantes da Doutrina Espírita abraçarem seus projetos a serviço do bem, recebendo estímulos para sua transformação pessoal, que se expressa em notável reforma íntima, e auxiliando mais pessoas ao seu alcance, em companhia dos Irmãos de Luz e do Pai Celestial.
No “Evangelho Segundo o Espiritismo”, uma das obras elementares da Doutrina Espírita, encontramos as máximas que dizem: “ajuda-te que o céu te ajudará” e “buscai e achareis”, impulsionando o homem a trabalhar no bem e para o bem, mostrando que o caminho para uma vida de qualidade é fazermos a nossa parte para o bem coletivo e assim receber o auxílio de Deus.
Em “O Livro dos Espíritos”, outra obra elementar da Doutrina, podemos encontrar na questão 766, a seguinte pergunta: “A vida social é uma obrigação natural?”. A resposta dos espíritos a Allan Kardec, seu codificador, é clara: “Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.”
A vida social dos homens inicia-se na família e se estende à sociedade como um todo. As atividades sociais fazem parte da própria vida. E as atividades realizadas na Casa Espírita oportunizam a convivência em grupo, desenvolvendo e aprimorando a empatia e o amor ao próximo. Deus não inspira os homens apenas para a contemplação. Tanto a Ciência como o conhecimento cada vez mais sistemático acerca da espiritualidade contribuem para a autovalorização do indivíduo na sua capacidade de compreender a preciosidade de suas inúmeras existências em que Deus as distribui e multiplica pela luz do amor. Deus fez o homem para viver em sociedade; esta é, pois, uma lei imutável, capaz de assegurar o nosso equilíbrio na vida e para a vida.
Na questão 767 da obra doutrinária mencionada, encontramos a seguinte pergunta: “O isolamento absoluto é contrário à Lei da Natureza?”. A resposta dos espíritos ao codificador é assertiva: “Sem dúvida, pois que por instinto os homens buscam a sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente.” Quem se isola fica afastado da socialização e do aprendizado com as outras vidas. O corpo humano é uma sociedade de valores, para oferecer à alma oportunidades valiosas de crescimento. Os homens, por instinto, anseiam por vida em sociedade desde os tempos primitivos. E com essa perspectiva de vida social é que se pode fundamentar o quão importante é o exercício do voluntariado nas Casas Espíritas.
O voluntariado – servir com amor e comprometimento – delineou-se historicamente a partir da Boa Nova do Cristo Jesus que, chegando às margens da Galiléia, chamou os pescadores Simão Pedro Barjonas e seu irmão André, João e seu irmão Tiago, os dois filhos de Zebedeu, para uma jornada que jamais terminaria. A caminhada voluntária os esperava ao longo do tempo, das horas, dos dias, dos anos, dos séculos e milênios. O Criador nos faz refletir quando afirma que o remédio para a evolução do espírito é através do amor ao próximo, da necessidade de trabalhar em sua reforma íntima e de conviver com seus semelhantes e com toda a Sua Criação. O espírito encarnado deve perceber que necessita estar com o pensamento voltado aos ensinamentos do Cristo Jesus, de luz incomparável, e oportunizar-se, servindo ao voluntariado na Casa Espírita, a vivenciar o clima de amor e da paz de Deus.
Devemos ampliar nossos valores individuais na união de esforços e dedicação à troca de experiências com alegria e gratidão pela vida e sob as bênçãos de Deus.
Sócrates considerava que o bem e o mal nada mais eram que a sabedoria e a ignorância, pois que o ignorante concretiza o mal por não saber que mais tarde será obrigado a quitá-lo, a ajustar contas. Mas, como dissemos, quando nos colocamos a serviço do próximo, a Justiça Divina opera-se na bivalência de nossos atos como quitação ou assunção de dívidas – a Ele cabe julgar nossos feitos na oportunidade da reencarnação terrena. Pedro, contudo, nos deixou claro exemplo desse dever de consciência em sua Carta Universal, profetizando: “Tende caridade para com os outros, porque a caridade cobrirá a multidão de pecados”.
Sabemos que a obsessão se estabelece em decorrência das imperfeições humanas, nesta ou em outras existências reencarnatórias. Um dos pilares para que se inicie o trabalho de desobsessão é a doação de amor ao próximo que pode ser vivenciado com o serviço voluntariado na Casa Espírita, atuando, por exemplo, como agente da misericórdia divina no alívio das dores dos semelhantes, ou mesmo contribuindo, com seu trabalho, para a felicidade de criaturas deste ou do outro lado da vida. E as energias do amor e do bem emanadas do voluntariado não tardarão o progresso de sua trajetória de aperfeiçoamento nas várias oportunidades reencarnatórias, levando aprendizado aos irmãos obsessores, na regeneração da Humanidade, poderão vivenciar, sopesado seu merecimento, novas condutas virtuosas que o auxiliem a reparar as faltas do passado ou das vidas pretéritas.
Que o voluntariado é serviço associado à boa vontade, ao comprometimento e à disposição para contribuir com intenção generosa de auxílio ao próximo, todo mundo sabe. Contudo, ainda há outros bons motivos para doar suas habilidades. O melhor deles é que, embora o objetivo principal do voluntário seja melhorar a vida de outras pessoas, ele acaba melhorando muito a qualidade de vida do indivíduo que se doa a servir de coração.

O voluntariado operante nas Casas Espíritas é um empreendimento de luz voltado à edificação do amor na Humanidade, atendendo às recomendações do Cristo Jesus de que devemos nos amar uns aos outros como Ele nos amou. É tarefa que todo espírita de boa vontade deve realizar espontânea e naturalmente, com o coração cheio de alegria e felicidade.
Kelen Trindade